Justiça manda SP transferir de hospital jovem com mielite transversa em estado gravíssimo: 'É desesperador', diz mãe
09/10/2025
(Foto: Reprodução) Justiça manda SP transferir de hospital jovem com mielite transversa em estado gravíssimo
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A Justiça determinou, por meio de medida liminar, que a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo e a Secretaria Municipal da Saúde da capital providenciem a transferência imediata de uma adolescente que está internada no Hospital do Grajaú em estado gravíssimo.
Lavínia Mendes Domingues, de 17 anos, tem mielite transversa aguda e precisa de outra unidade hospitalar com recursos especializados em neurologia.
A decisão da juíza Patrícia Persicano Pires, da 16ª Vara da Fazenda Pública, é da quarta-feira (8). Segundo informado pela família, o cumprimento da liminar se deu por volta da meia-noite desta sexta-feira (10), quando a jovem foi finalmente transferida.
"É desesperador ver minha filha desse jeito e não conseguir fazer nada. Tem que sair essa transferência para um hospital que tenha recursos para tratá-la, porque ela não pode ficar assim. É uma menina de 17 anos que tem uma vida toda pela frente. Aconteceu isso da noite para o dia. Ela está paralisada, não mexe os membros. Para ela é sofrimento, porque ela está vendo tudo o que está acontecendo", afirma a mãe, Bruna Mendes Severo Nascimento.
Justiça determina que SP transfira adolescente Lavínia Mendes com mielite transversa em estado gravíssimo
Arquivo Pessoal
"Eu como mãe fico firme na frente dela, mas quando eu saio do quarto eu desabo, choro, não consigo ver a minha filha sofrendo desse jeito. É difícil, muito difícil, ruim demais. Ela foi intubada de novo porque não está conseguindo respirar direito. Fizeram vários exames e querem descobrir a bactéria, só que até agora não tem recurso para descobrir. Um recurso mais detalhado para descobrir e para já dar a medicação certa", ressaltou.
🔍Mielite transversa aguda é uma inflamação rara da medula espinhal que pode causar fraqueza ou paralisia nos braços e nas pernas, perda de sensibilidade e problemas de controle da bexiga e do intestino. A doença evolui rapidamente e, em casos graves, pode levar à tetraplegia e complicações respiratórias. É uma doença neurológica rara e grave, caracterizada pela inflamação de um segmento da medula espinhal.
Lavínia está internada desde 2 de outubro no Hospital do Grajaú, na Zona Sul, com diagnóstico de mielite transversa aguda com inflamação que atinge da vértebra C3 até a T1, região que controla os movimentos dos braços, do tronco e da parte superior do corpo.
Na decisão judicial consta que, segundo relatórios da médica Juliana Maria Fontes Costa, responsável pelo atendimento, a adolescente apresenta tetraplegia flácida, que é a paralisia dos quatro membros com músculos sem resistência, além de ausência de reflexo de tosse, dificuldade para engolir e desconforto respiratório. Há também a informação de que ela precisa de vigilância contínua e há risco de nova intubação orotraqueal, quando um tubo é colocado na traqueia para auxiliar a respiração.
Consta ainda que o tratamento iniciado com metilprednisolona endovenosa em altas doses (corticosteroide para reduzir a inflamação) não apresentou resposta significativa após cinco dias, caracterizando falha terapêutica precoce.
A equipe médica, então, recomendou intervenção de segunda linha, como plasmaférese, que é a remoção de substâncias nocivas do sangue, ou imunoglobulina intravenosa, medicamento que modula o sistema imunológico, além de suporte neurológico e reabilitação motora intensiva, recursos não disponíveis no Hospital do Grajaú.
Relatórios alertam também, segundo a decisão judicial, que a ausência de melhora aumenta o risco de sequelas permanentes e mortalidade indireta, especialmente por falência respiratória e infecções decorrentes da imobilidade prolongada.
A adolescente está recebendo imunoglobulina intravenosa, mas a defesa da família ressalta que este tratamento foi prescrito como algo auxiliar, enquanto não for possível realizar o plasmaférese.
"O hospital em que ela se encontra não tem o equipamento do plasmaférese, e precisa. Por isso que está toda essa situação de liminar para isso. A imunoglobulina é para que eles consigam já dar esse tratamento, mas é alternativo", afirmou Juliana Fontes dos Santos, que acompanha o caso com a advogada Giselle Tapai.
"O hospital não tinha e compraram com orçamento deles esse medicamento de imunoglobulina. Foram compradas seis doses. É um caso muito complexo o caso dela. O tratamento de plasmaférese é muito complexo também, e ela precisa o quanto antes", ressalta.
O que diz a liminar
A decisão liminar determina que as secretarias estadual e municipal da Saúde de São Paulo providenciem, no prazo máximo de seis horas, a transferência da adolescente para o Hospital das Clínicas ou outro hospital público com UTI adequada, suporte neurológico, recursos para plasmaférese ou imunoglobulina intravenosa e equipe multidisciplinar para reabilitação motora intensiva.
Caso não haja vagas em unidades públicas, a transferência deve ocorrer para um hospital privado, com custos integralmente custeados pelo Estado, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal.
A decisão estabelece também multa diária de R$ 10 mil por hora de atraso, limitada inicialmente a R$ 200 mil, e autoriza que a família encaminhe pessoalmente a determinação às autoridades, devido à urgência extrema.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
"A Central de Regulação de Ofertas de Serviços da Saúde (Cross) informa que a paciente L.M.D. possui vaga autorizada para tratamento em leito de UTI no Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-SP). A transferência ocorrerá respeitando a estabilidade e o quadro clínico da paciente."
O que diz a Secretaria Municipal da Saúde
O g1 procurou a Secretaria Municipal da Saúde, já que a pasta foi citada na medida liminar, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Adolescente Lavínia Mendes foi diagnosticada com mielite transversa em estado gravíssimo
Arquivo Pessoal
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