Aluno com Síndrome de Tourette é agredido até perder a consciência por colega em escola, diz família
04/10/2025
(Foto: Reprodução) Aluno com Síndrome de Tourette foi espancado até perder a consciência por colega dentro de escola estadual em Santos, SP
Arquivo Pessoal
Um menino de 12 anos, diagnosticado com Síndrome de Tourette e ansiedade, foi espancado até perder a consciência por um colega dentro da sala de aula na Escola Estadual Zulmira Campos, em Santos, no litoral de São Paulo. As informações são da família da vítima, que afirma que ela sofre bullying e foi atacada após avisar a professora que o agressor havia rasgado o seu trabalho escolar.
Ao g1, o pai do menino, Denys da Silva Pereira, afirmou que a escola foi omissa por não socorrer o filho para uma unidade de saúde e também por não tomar providências em relação ao aluno agressor, que, segundo ele, já tem histórico de violência e comportamentos ruins no local.
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação, por meio da Unidade Regional de Ensino de Santos, afirmou que acionou os responsáveis pelo estudante agressor, que compareceram à escola para uma reunião de mediação (veja o posicionamento completo abaixo).
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A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como lesão corporal na Delegacia da Infância e da Juventude (Diju) de Santos e que diligências continuam para esclarecer os fatos. Detalhes foram preservados por se tratar de menor de idade.
O caso ocorreu na Avenida Afonso Schmidt, no bairro Castelo, na tarde de segunda-feira (29). De acordo com o boletim de ocorrência, após reportar o ocorrido à professora, a vítima retornou para a cadeira, mas, no trajeto, foi agredida pelo colega com socos no rosto e chutes.
A vítima caiu ao chão, mas continuou sendo chutada até perder a consciência, ainda segundo o BO. Os responsáveis foram acionados e levaram o menino até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste, mas ele foi transferido à Santa Casa de Santos, onde permaneceu internado com fortes dores na cabeça. Após a realização de uma tomografia, a vítima recebeu alta no dia seguinte.
Omissão
Denys entrou em contato com a escola que, segundo ele, afirmou que não podia expulsar o aluno agressor que, ainda de acordo com o relato, seria diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 2. O pai da vítima afirma que nenhuma comprovação foi apresentada.
"Essa foi a minha indignação porque não é a primeira vez que esse aluno agride alguém, tem umas cinco páginas de ocorrência na escola com o mesmo aluno, tem alunos falando que têm medo", disse Denys.
De acordo com o pai da vítima, a escola afirmou que levaria o caso ao Conselho Tutelar, no entanto, após ligar para o órgão, ele descobriu que o órgão não havia sido informado do ocorrido, então o registro da denúncia foi feito por ele. "A escola está sendo omissa", disse.
O pai reclamou também que, ao invés da escola chamar uma ambulância, esperou que os responsáveis fossem buscar a vítima. "Foi omissa nisso. Quando me chamaram eram 17h, como minha mãe estava mais perto, chegou primeiro. Eles falaram para levá-lo para casa e depois levá-lo na UPA".
Trauma
Aluno com Síndrome de Tourrete foi espancado até perder a consciência por colega dentro de escola estadual em Santos, SP
Arquivo Pessoal
Denys afirmou que o filho toma medicação controlada para ansiedade e a síndrome de Tourette (leia mais sobre abaixo), que causa movimentos e falas involuntárias no menino. Devido às agressões sofridas, a vítima também não quer mais ir à escola.
"Ele está bem, os hematomas estão saindo, a dor de cabeça também está amenizando, [...] mas com tudo isso ele não quer ir mais, ele está com trauma", afirmou.
O homem pediu para que os pais tenham consciência sobre os riscos do bullying e da violência na escola, e conversem com os filhos, além de participarem da vida escolar deles. "Não é só jogar os alunos na escola", finalizou Denys.
O que diz o Estado de SP
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação, por meio da Unidade Regional de Ensino de Santos, lamentou o ocorrido e repudiou veementemente todo e qualquer tipo de violência, dentro ou fora das escolas, e declarou que o Conselho Tutelar foi acionado.
De acordo com a pasta, os responsáveis pelo estudante agredido foram imediatamente informados sobre o ocorrido e ele recebeu atendimento médico na segunda-feira (29), tendo alta na terça-feira (30). Ainda segundo a secretaria, um psicólogo do Programa Psicólogos nas Escolas está à disposição dos estudantes.
O caso foi registrado na plataforma do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva), que também dará apoio à unidade para intensificar ações de promoção da cultura de paz e do diálogo entre os estudantes, ainda de acordo com a pasta.
Síndrome de Tourette
O que é Síndrome de Tourette?
Em agosto de 2022, o médico neurologista Edson Amâncio explicou ao g1 que a Síndrome de Tourette geralmente se manifesta na adolescência e não é notada em nenhum exame neurológico. Portanto, o diagnóstico é clínico. Após a descoberta, deve ser iniciado tratamento com medicação e psicoterapia, opção que traz ótimos resultados, segundo o especialista.
“Ela [síndrome de Tourette] se manifesta na infância e adolescência, mas pode desaparecer completamente no início da fase adulta ou pode persistir durante toda a vida, mas geralmente quando persiste é com gravidade reduzida, e pode ser intermitente, em que [a pessoa] passa uma longa temporada sem tique nenhum e de repente volta”, complementou.
Segundo ele, a síndrome é caracterizada por “tiques motores, gritos inarticulados, acompanhados de palavras articuladas, com ecolalia [repetição de palavras] e coprolalia [uso de palavras obscenas]”.
Amâncio ressaltou que a síndrome pode ser confundida com transtorno compulsivo obsessivo, mas apontou que são condições diferentes. Ele disse ainda que muitos tiques podem ser ocasionados pela síndrome, mas não ganham destaque porque a condição é geralmente associada aos quadros em que as pessoas xingam, falam alto e fazem gestos.
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